domingo, 14 de junho de 2009

Ler ou não ler todos os livros

Em “Ler ou não ler todos livros”, Edson Nery da Fonseca discorre sobre a importância e necessidade de uma pontual seleção de livros, os quais são indispensáveis para a obtenção de cultura e formação intelectual, e tal seleção para ser de fato um instrumento de auxílio, deve ser elaborada a partir de objetivos e necessidades universais, pois para esse autor: “Para ser culto não é preciso ler todos os livros, mas apenas os essenciais. Saber quais são esses livros é um problema tão sério quanto o “ser ou não ser” de Hamlet”.
Alguém já disse que “tudo no mundo existe para transformar-se em livro”, e a parti disso, com a elevada produção bibliográfica, é deveras impossível ler todos os livros, até porque muitos livros são inóspitos e inúteis; por conseguinte, a seleção e classificação do que se deve ler é algo primordial, e eis o significado e razão de ser das bibliotecas, as quais compilam listam dos melhores livros publicados no mundo.
As discussões em torno dessas grandes produções são sobremodo antigas, pois desde o século XVII eram oferecidos cursos com duração de quatro anos para que os autores gregos e latinos fossem estudados; posteriormente, em 1919, esse tipo de estudo passou a fazer parte de importantes discussões nas universidades norte-americanas, pois julgavam que tal tipo de estudo deveria ser adquirido no primeiro ciclo do curso superior.
O “boom” bibliográfico passou a ser identificado a partir das listas do século XIX, à exemplo disso temos a lista do austríaco William Swan Sonnenschein, com referências de 150 000 obras, estabelecidas na Inglaterra; e como profere Edson Nery: “Augusto Comte foi outro que se preocupou com um programa sistemático de leituras, selecionando cerca de 100 obras que classificou em quatro partes: Poesia, Ciência, História, e Síntese”.
A explosão bibliográfica já citada foi a grande responsável pelas especializações dessa área, bem como impositora de catálogos padronizados, e listas orientadas nas bibliotecas públicas as quais estavam surgindo, e necessitavam de coleções básicas, e a primeira lista básica publicada foi a da American Library Association – ALA, em 1893, a pioneira.
Destaca-se, portanto nesse cenário, a importância e interesse dos bibliotecários, os grandes responsáveis pelas produções e compilações de tais listas, os quais passaram a ser vistos segundo Ortega Y Gasset como filtros que se interpõe entre a infinidade de livros, e o homem; e segundo Jorge Luis Borges: “Ordenar Bibliotecas é exercer de um modo silencioso e modesto a arte da crítica”.
Tivemos como pioneiro nacional com esse objetivo, o maranhense Domingos de Castro Perdigão, diretor da biblioteca pública de seu Estado, o qual buscou através da publicação de um livro dividido em três partes: leituras preparatórias (dos oito aos dez anos); educativas e instrutivas (dos doze aos quinze anos); e ilustrativas (dos quinze aos dezoito anos), instruir e orientar a leitura da sociedade de seu tempo.
O interesse pelas grandes listas ainda é bem presente em meio de escritores, bibliotecários e educadores, pois nossas bibliotecas agora, são dirigidas por critérios seletivos, atuais e rigorosos, não mais construídas ao leu; questão tão importante, que tratada e contida no currículo de biblioteconomia.
E para os interessados que buscam orientação nesse meio de explosão, fica a dica de constante contato com as revistas especializadas como a Erasmus, Books Abroad e Choice, européia, norte-americanas respectivamente, haja vista a Editora Nacional Vozes ter tido pouco tempo de iniciativa, uma vez que as bibliotecas ideais voltaram ao esmo, e transformaram o gênero de outrora especificidades de intelectuais. E em busca de alguns indispensáveis a leitura, Edson Nery toma os quatro autores citados por Gustavo Capanema: “Um homem culto é alguém que tem sempre Goethe ao alcance da mão. Um homem culto não dorme sem ler Shakespeare, Dante, Rilke, um grande poeta” pois “para ser culto, não é preciso ler todos os livros, apenas os essenciais”.


FONSECA, Edson Nery da. Ler ou não ler todos os livros. R. Biblioteconomia. Brasília, jan./jun. 1974. Disponível em: http://164.41.105.3/portalnesp/ojs-2.1.1/index.php/RBB/article/view/56/41. Acesso em: 13 jun. 2009.

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