“A Biblioteca Escolar e a Crise da Educação” de Edson Nery da Fonseca, relata uma Conferência pronunciada na sessão solene de abertura do Primeiro Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares, realizado em Brasília em outubro de 1982, juntamente do Instituto Nacional do Livro, do Centro Regional para Fomento do Livro na América Latina e no Caribe, e do Departamento de Biblioteconomia da Universidade de Brasília.
Edson Nery, em instantes iniciais agradece a honra de falar na abertura do Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares, e saúda emocionadamente a Universidade de Brasília onde é professor emérito desde 1995, bem como fundador da Biblioteca Nacional Central da mesma.
Ressalta a utilização da palavra informação em um contexto de planejamento de serviços bibliográficos nacionais: “palavra ambígua, mais adequada á comunicação de massas do que a serviços cujo ideal é antes a formação do que a informação”. Indica as categorias de bibliotecas: escolares, especializadas, nacionais publicas e universitárias; dizendo que todas são igualmente importantes, e com objetivos definidos, atendendo a determinados tipos de usuários.
Questiona sobre porque somente agora (1982) realizar-se um Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares no Brasil, e a resposta é clara, pois, como estudar bibliotecas escolares em nosso país sendo que essas não existem, dando espaço, ou melhor, suprindo essa necessidade, através das bibliotecas públicas, as quais não apresentam um perfil de usuário perfeitamente direcionado; e é nesse ponto que se justifica o Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares: o fato da não existência dessas, e cita T. S. Eliot para uma maior percepção e sensibilização para o fato:
Between the idea
Entre a idéia
And the reality
E a realidade
Between the motion
Entre o movimento
And the act
E o ato
Falls the Shadow.
Cai a sombra.
Nessa obra Edson Nery também exalta o Instituto Nacional do Livro bem como evoca Augusto Meyer1 como sendo responsável, por meio de sua fala: “tu vais ser inspetor do Instituto Nacional do Livro no Nordeste, mas haverás de dar maior apoio às bibliotecas das cidades distantes do que às do teu Recife” e por meio do INL, por conhecer a realidade terrível que é o Brasil interiorano, sem conforto, sem higiene, sem bibliotecas dignas desse nome, e ressalta-se muito o “interiorano” pelo fato de Edson Nery ter sido criado em cidade litorânea.
Nesta feliz iniciativa do Instituto Nacional, Edson Nery destaca que as cinco categorias que integram uma rede nacional de bibliotecas devem atuar como elementos de interação, e que o relacionamento entre as bibliotecas públicas e as escolares tem de ser ainda mais estreito, pois é nas escolas que se encontra a maior concentração de alfabetizados sendo ali que a alfabetização pode ser completada, uma vez que essas proporcionam a base e os hábitos permanentes do uso de fontes de informação, e conseqüentemente, uma maior utilização, importância e valorização das bibliotecas públicas futuramente.
Destaca também a louvável convocação de bibliotecários e educadores (pedagogos) para debaterem juntos nessa conferência, pois segundo Clemenceau – “Qualquer matéria é complexa demais para ser entregue a especialistas” e também para tirar de vista qualquer exclusividade biblioteconomizante, ou seja, um monopólio aparente por parte dos bibliotecários.
Segundo nosso autor, “alguém já definiu o bibliotecário como aquele que conhece todos os livros mais não leu nenhum”, e Rubens Borba de Moraes2 disse: “que os bibliotecários pegam em livros é verdade; mas que nunca leram um deles é mentira”, Edson Nery por sua vez afirma que o bibliotecário deve gostar de livros, mas ele deve gostar ainda mais de leitores, ou seja, a biblioteca deveria ser definida como assembléia de leitores e não como coleção de livros.
Por outro lado, se a biblioteca fosse inteiramente regida por educadores poder-se –ia cair em um no reducionismo pedagogizante, ou seja, a biblioteca escolar não seria chamada de biblioteca, mas sim um centro de instrução ou de aprendizado, um centro de mídia educativa ou qualquer outro rótulo corretamente utilizado pelos educadores.
Porém, um tema não explicito e que faz todo o sentido para esse processo está e estará sempre diante de todos: a crise da instituição escolar. Fica demasiadamente incoerente a discussão de recursos humanos e materiais de bibliotecas sem levar em conta a permanente crise das escolas, para Edson, temos que pensar na biblioteca pública ou na biblioteca escolar de forma que atendam às propostas de solução para a crise do sistema escolar.
Nesse contexto, condena-se o treinamento profissional; especialização é a grande chaga na nossa época, pois geram posições classistas e tendem a transformar o país num conglomerado de sindicatos. O objetivo e solução são uma volta ao sistema que oferecia educação humanista, escolas que formem pessoas cultas, e o papel da biblioteca escolar deve ser o de oferecer a infra-estrutura bibliográfica, iconográfica e fonográfica, para uma centrada busca de conhecimento, valores nas obras –primas, Literatura, Filosofia, Teatro, Pintura, e Música, em uma união com o universo dos saberes (pedagogia, literatura, psicologia, bibliografia, entre tantos outros) e dos profissionais respectivos.
Tais crises, tanto das bibliotecas escolares, quanto da própria escola, exigem bibliotecários de altíssimo nível, e nosso país parece não entender esse quadro, uma vez que todas essas especializações e profissionais qualificados e pós-graduados se voltam para bibliotecas especializadas universitárias ou nacionais, restando as bibliotecas escolares, as que existem, profissionais conformados com baixos salários e poucos estudos, e como alguém já disse: “nada mais caro do que um profissional (bibliotecário) barato”, pois bacharéis em biblioteconomia são executantes de serviços técnicos não respeitando e conhecendo como deveria as cinco categorias de bibliotecas integrantes.
1 - Augusto Meyer (Porto Alegre, 24 de janeiro de 1902 — Rio de Janeiro, 10 de julho de 1970) foi um jornalista, ensaísta, poeta, memorialista e folclorista brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia.
Colaborou em diversos jornais do Rio Grande do Sul, especialmente no Diário de Notícias e Correio do Povo, escrevendo poemas e ensaios críticos. Estreou na literatura em 1920, com o livro de poesias A ilusão querida, mas foi com os livros Coração verde, Giraluz e Poemas de Bilu que conquistou renome nacional. Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado, em Porto Alegre.
Convidado por Getúlio Vargas para organizar o Instituto Nacional do Livro, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1937, junto a um grupo de intelectuais gaúchos. Foi diretor do INL durante cerca de trinta anos. Em 1947 recebeu o Prêmio Filipe de Oliveira na categoria Memórias e, em 1950, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da obra literária.
Edson Nery, em instantes iniciais agradece a honra de falar na abertura do Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares, e saúda emocionadamente a Universidade de Brasília onde é professor emérito desde 1995, bem como fundador da Biblioteca Nacional Central da mesma.
Ressalta a utilização da palavra informação em um contexto de planejamento de serviços bibliográficos nacionais: “palavra ambígua, mais adequada á comunicação de massas do que a serviços cujo ideal é antes a formação do que a informação”. Indica as categorias de bibliotecas: escolares, especializadas, nacionais publicas e universitárias; dizendo que todas são igualmente importantes, e com objetivos definidos, atendendo a determinados tipos de usuários.
Questiona sobre porque somente agora (1982) realizar-se um Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares no Brasil, e a resposta é clara, pois, como estudar bibliotecas escolares em nosso país sendo que essas não existem, dando espaço, ou melhor, suprindo essa necessidade, através das bibliotecas públicas, as quais não apresentam um perfil de usuário perfeitamente direcionado; e é nesse ponto que se justifica o Seminário Nacional sobre Bibliotecas Escolares: o fato da não existência dessas, e cita T. S. Eliot para uma maior percepção e sensibilização para o fato:
Between the idea
Entre a idéia
And the reality
E a realidade
Between the motion
Entre o movimento
And the act
E o ato
Falls the Shadow.
Cai a sombra.
Nessa obra Edson Nery também exalta o Instituto Nacional do Livro bem como evoca Augusto Meyer1 como sendo responsável, por meio de sua fala: “tu vais ser inspetor do Instituto Nacional do Livro no Nordeste, mas haverás de dar maior apoio às bibliotecas das cidades distantes do que às do teu Recife” e por meio do INL, por conhecer a realidade terrível que é o Brasil interiorano, sem conforto, sem higiene, sem bibliotecas dignas desse nome, e ressalta-se muito o “interiorano” pelo fato de Edson Nery ter sido criado em cidade litorânea.
Nesta feliz iniciativa do Instituto Nacional, Edson Nery destaca que as cinco categorias que integram uma rede nacional de bibliotecas devem atuar como elementos de interação, e que o relacionamento entre as bibliotecas públicas e as escolares tem de ser ainda mais estreito, pois é nas escolas que se encontra a maior concentração de alfabetizados sendo ali que a alfabetização pode ser completada, uma vez que essas proporcionam a base e os hábitos permanentes do uso de fontes de informação, e conseqüentemente, uma maior utilização, importância e valorização das bibliotecas públicas futuramente.
Destaca também a louvável convocação de bibliotecários e educadores (pedagogos) para debaterem juntos nessa conferência, pois segundo Clemenceau – “Qualquer matéria é complexa demais para ser entregue a especialistas” e também para tirar de vista qualquer exclusividade biblioteconomizante, ou seja, um monopólio aparente por parte dos bibliotecários.
Segundo nosso autor, “alguém já definiu o bibliotecário como aquele que conhece todos os livros mais não leu nenhum”, e Rubens Borba de Moraes2 disse: “que os bibliotecários pegam em livros é verdade; mas que nunca leram um deles é mentira”, Edson Nery por sua vez afirma que o bibliotecário deve gostar de livros, mas ele deve gostar ainda mais de leitores, ou seja, a biblioteca deveria ser definida como assembléia de leitores e não como coleção de livros.
Por outro lado, se a biblioteca fosse inteiramente regida por educadores poder-se –ia cair em um no reducionismo pedagogizante, ou seja, a biblioteca escolar não seria chamada de biblioteca, mas sim um centro de instrução ou de aprendizado, um centro de mídia educativa ou qualquer outro rótulo corretamente utilizado pelos educadores.
Porém, um tema não explicito e que faz todo o sentido para esse processo está e estará sempre diante de todos: a crise da instituição escolar. Fica demasiadamente incoerente a discussão de recursos humanos e materiais de bibliotecas sem levar em conta a permanente crise das escolas, para Edson, temos que pensar na biblioteca pública ou na biblioteca escolar de forma que atendam às propostas de solução para a crise do sistema escolar.
Nesse contexto, condena-se o treinamento profissional; especialização é a grande chaga na nossa época, pois geram posições classistas e tendem a transformar o país num conglomerado de sindicatos. O objetivo e solução são uma volta ao sistema que oferecia educação humanista, escolas que formem pessoas cultas, e o papel da biblioteca escolar deve ser o de oferecer a infra-estrutura bibliográfica, iconográfica e fonográfica, para uma centrada busca de conhecimento, valores nas obras –primas, Literatura, Filosofia, Teatro, Pintura, e Música, em uma união com o universo dos saberes (pedagogia, literatura, psicologia, bibliografia, entre tantos outros) e dos profissionais respectivos.
Tais crises, tanto das bibliotecas escolares, quanto da própria escola, exigem bibliotecários de altíssimo nível, e nosso país parece não entender esse quadro, uma vez que todas essas especializações e profissionais qualificados e pós-graduados se voltam para bibliotecas especializadas universitárias ou nacionais, restando as bibliotecas escolares, as que existem, profissionais conformados com baixos salários e poucos estudos, e como alguém já disse: “nada mais caro do que um profissional (bibliotecário) barato”, pois bacharéis em biblioteconomia são executantes de serviços técnicos não respeitando e conhecendo como deveria as cinco categorias de bibliotecas integrantes.
1 - Augusto Meyer (Porto Alegre, 24 de janeiro de 1902 — Rio de Janeiro, 10 de julho de 1970) foi um jornalista, ensaísta, poeta, memorialista e folclorista brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia.
Colaborou em diversos jornais do Rio Grande do Sul, especialmente no Diário de Notícias e Correio do Povo, escrevendo poemas e ensaios críticos. Estreou na literatura em 1920, com o livro de poesias A ilusão querida, mas foi com os livros Coração verde, Giraluz e Poemas de Bilu que conquistou renome nacional. Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado, em Porto Alegre.
Convidado por Getúlio Vargas para organizar o Instituto Nacional do Livro, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1937, junto a um grupo de intelectuais gaúchos. Foi diretor do INL durante cerca de trinta anos. Em 1947 recebeu o Prêmio Filipe de Oliveira na categoria Memórias e, em 1950, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da obra literária.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Meyer
2 - Rubens Borba Alves de Moraes, nasceu em Araraquara, SP, em 23 de janeiro de 1899.
Estudou Biblioteconomia nos Estados Unidos, como bolsista da Fundação Rockfeller. Em 1940 fundou o Curso de Biblioteconomia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que dirigiu e onde lecionou por vários anos. Foi um dos fundadores da Associação Paulista de Bibliotecários.
Na década de 50, atuou com destaque em organismos internacionais na Europa e Estados Unidos, tais como a Biblioteca da ONU e o Centro de Informações da ONU.
Professor emérito da Universidade de Brasília.
Recebeu a medalha Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores.
Autor do "Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros", 1949, "Bibliographia Brasiliana", 1958/59, "O Bibliófilo Aprendiz", 1965, entre outras obras.
Grande colecionador de obras raras e livros raros sobre o Brasil, sua coleção pertence hoje à Biblioteca José Mindlin - Centro Internacional de Estudos Bibliográficos e Luso-Brasileiros.
Faleceu em 2 de setembro de 1986.
http://www.crb1.org.br/homenagens/homenageados.htm2 - Rubens Borba Alves de Moraes, nasceu em Araraquara, SP, em 23 de janeiro de 1899.
Estudou Biblioteconomia nos Estados Unidos, como bolsista da Fundação Rockfeller. Em 1940 fundou o Curso de Biblioteconomia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que dirigiu e onde lecionou por vários anos. Foi um dos fundadores da Associação Paulista de Bibliotecários.
Na década de 50, atuou com destaque em organismos internacionais na Europa e Estados Unidos, tais como a Biblioteca da ONU e o Centro de Informações da ONU.
Professor emérito da Universidade de Brasília.
Recebeu a medalha Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores.
Autor do "Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros", 1949, "Bibliographia Brasiliana", 1958/59, "O Bibliófilo Aprendiz", 1965, entre outras obras.
Grande colecionador de obras raras e livros raros sobre o Brasil, sua coleção pertence hoje à Biblioteca José Mindlin - Centro Internacional de Estudos Bibliográficos e Luso-Brasileiros.
Faleceu em 2 de setembro de 1986.
FONSECA, Edson Nery da. A Biblioteca Escolar e a Crise da Educação. São Paulo: Pioneira, 1983, 20p.
Um comentário:
É com muita alegria que fiquei sabendo desse blog e sua proposta. Parabéns à todos que se dedicam a esse trabalho através do blog que hoje é um grande instrumento de disseminação da informação. Sou bibliotecária escolar há 15 anos e amo esse profissão. Adorei esse texto sobre bibliotecas escolares e concordo com muitas posições e pensamentos do Profº Edson. Também tenho um blog que procura sempre passar informações da área e afins.
Posso divulgá-los em meu blog? Desde já, acompanharei sempre vocês.
Abraços,
Roseli
Postar um comentário