Vai ser lançado pela Ateliê Editorial em outubro, aqui no Recife, quando há uma bienal do livro. Há muitos anos eu desejava escrever minhas memórias, não por vaidade, mas pelos muitos contatos que eu tive com gente importante [...]
Qual vai ser o formato de suas memórias?
Eu queria escrever meu livro de memórias, mas não sabia como começar. Não ia começar dizendo: "Nasci no dia 6 de dezembro de 1921, na Rua do Progresso, no Recife". Ridículo, né? Eu queria começar de modo diferente. Até que um dia eu estava organizando um livro meu, constituído por conferências que fiz sobre Gilberto Freyre, e numa dessas conferências - tinha esquecido -, eu citava o filósofo espanhol Julián Marías, que numa conferência no Recife, disse: "Para você entender bem uma pessoa, em vez de saber o que ela fez na vida, como está nos currículos, muito mais importante é saber o que ela deixou de fazer na vida". Eu dei um pulo, um grito: "É por aí que eu vou!" Porque eu só sei escrever partindo de um mote. E meu mote foi este. Quase todos os capítulos do meu livro de memórias começam assim: "Por que não me chamo Antonio", "Por que não me fiz monge beneditino", "Por que não completei o curso de Direito", "Por que deixei o meu Nordeste", até o último capítulo, que se intitula: "Por que não me casei". Um amigo meu disse: "Mas isso é nitroglicerina pura!". (risos)
Qual será o título do livro?
O título vai ser um verso de Guillaume Apollinaire, do poema "Le pont Mirabeau".
Belíssimo poema.
Lindo, né? Tenho num quadro que um amigo imprimiu numa tipografia francesa e me deu de presente. O meu livro é: "Vão-se os dias e eu fico". "Les jours s'en vont je demeure". (recita) "Sous le pont Mirabeau coule la Seine/ Et nos amours/ Faut-il qu'il m'en souvienne/ La joie venait toujours après la peine// Vienne la nuit sonne l'heure/ Les jours s'en vont je demeure". E tem a epígrafe, esses dois versos de Guillaume Apollinaire.
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